BRASÍLIA, Brasil — O Ministério das Comunicações (MiniCom) publicou no Diário Oficial da União em junho o Aviso de Chamamento Público nº 1, com o objetivo de fazer testes com sistemas de rádio digital. Os estudos sobre o assunto tiveram início há dois anos, mas por razões técnicas, não foram concluídos.
Por Carlos Eduardo Behrensdorf
Secretário de Serviços de Comunicação Eletrônica do MiniCom, Genildo Lins. Foto de Herivelto Batista
A Assessoria de Imprensa do MiniCom informou que as razões técnicas foram as seguintes: uma das propostas apresentou falta de documentos para o processo licitatório e outro teve problemas com o equipamento. A assessoria não informou o nome das empresas concorrentes.
O comunicado oficial esclareceu que os testes terão seis meses de duração. A expectativa é que a etapa de testes com rádio digital termine no primeiro semestre de 2012. Os testes e avaliações em sistemas de rádio digital seguirão a metodologia desenvolvida pela Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), nos padrões IBOC (dos Estados Unidos) e DRM (europeu).
Em 2010, a ANATEL acompanhou a realização de experimentos com sistemas de rádio digital em Minas Gerais e em São Paulo. Os testes planejados pelo Ministério das Comunicações com a colaboração da agência envolveram emissões transmitindo o sinal digital com a tecnologia DRM, nas faixas de AM e de FM. Além disso, a ANATEL participou no exercício do planejamento dos testes do sistema DRM operando em baixa potência para estações experimentais na cidade do Rio de Janeiro. Este é o registro que consta do Relatório Anual de 2010 da ANATEL.
Os interessados encaminharão ao MiniCom manifestações, devidamente fundamentadas. Os testes serão feitos com sistemas de rádio digital nas diversas faixas de freqüência das respectivas modalidades (OM, OT, OC e FM). Ao final, o MiniCom analisará os resultados para possível decisão sobre a escolha de um dos dois sistemas pelo Brasil.
Diretor de Tecnologia da ABERT, Ronald Barbosa
Os novos testes sobre o padrão de rádio digital serão retomados nas cidades de Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Essas cidades foram escolhidas com base em critérios que permitam ao Ministério das Comunicações avaliar o desempenho dos sistemas em diferentes realidades geográficas e urbanísticas. O MiniCom vai contar com parceria da ANATEL e do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO).
Os testes incluirão a análise objetiva e subjetiva do áudio; de interferências co-canais e em canais adjacentes; de recepção do sinal em ambientes internos e externos (outdoor e indoor); de medidas de ruídos na faixa OM, OC, OT e FM; e de indicação do delay existente nos sistemas.
Com a implantação de um sistema de rádio digital no Brasil haverá a possibilidade da criação de novos modelos de negócios, como a interatividade e a multiprogramação; transferência de tecnologia para a indústria brasileira de transmissores e receptores e a possibilidade da participação de instituições de ensino e pesquisa brasileiras no ajuste e/ou melhoria dos sistemas de acordo com a necessidade do País. O sistema digital também oferecerá soluções para emissoras de baixa potência, com custo reduzido.
Diretor Geral da ABERT, Luis Roberto Antonik
Para o secretário de Serviços de Comunicação Eletrônica do MiniCom, Genildo Lins, o objetivo é conhecer os padrões de rádio digital para definir uma plataforma para o Brasil, do mesmo modo do que ocorreu antes da definição do padrão nipo-brasileiro como modelo de TV digital no país.
“Nós vamos fazer esses testes para escolher o sistema que melhor se adapta à realidade brasileira, nas questões geográficas e de possíveis interferências em grandes cidades”, disse o secretário de Comunicação Eletrônica. Depois da fase de estudos, deverá haver negociações com fabricantes de equipamentos e também diálogos internacionais que possibilitem a efetiva implementação do sistema de rádio digital.
A migração para o sistema digital permitirá às emissoras de rádio melhorar a qualidade de som durante as transmissões. Também haverá mais canais disponíveis no espectro, uma vez que não será necessário deixar canais vagos para evitar interferências entre as emissoras.
As dúvidas da ABERT que foram levadas ao MiniCom são as seguintes:
1. Qual o foco do Ministério quando publicou o Aviso de Chamamento? Testar as tecnologias disponíveis? As tecnologias testadas serão o DRM e o HD Rádio?
2. Quem pode atender ao Aviso de Chamamento: fabricantes e/ou radiodifusores?
3. Cada candidato deverá promover os testes e os respectivos relatórios em OM, OT, OC e FM? Todos serão realizados no prazo de 180 dias?
4. Os radiodifusores ou fabricantes poderão escolher um dos padrões para teste em sua cidade/emissora? Por exemplo, se dois candidatos de diferentes localidades (Manaus, Amazonas, e Criciúma, Santa Catarina) quiserem testar em Onda Média, um com sistema HD Radio e outro com o padrão DRM, isso será possível?
5. Sabe-se que existem apenas 16 estações instaladas em Onda Curta no Brasil. Estas estações também serão testadas?
6. Os testes comparativos serão feitos a partir da mesma planta instalada?
7. Considerando que os testes tem objetivos comparativos, existe uma norma geral definindo procedimentos e critérios de como os mesmos serão realizados? Quais padrões serão testados? Habilidades, facilidades e características dos sistemas?
O diretor geral da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), Luis Roberto Antonik, considera positiva a determinação do Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, para a realização de testes e avaliações com sistemas de radiodifusão sonora digital.
“O setor está aberto ao diálogo e levamos ao Ministério das Comunicações algumas dúvidas (Ver lista) que nos restam, após reunião com a diretoria de Tecnologia da ABERT. Nosso propósito é o de facilitar o diálogo com o MiniCom e para isso buscamos os esclarecimentos”.
O engenheiro Ronald Barbosa, diretor de Tecnologia da ABERT, é o que mantém contatos com o MiniCom buscando esclarecimentos para os radiodifusores.
A retomada de conversações entre o governo e os radiodifusores retarda, mais uma vez, a escolha daquele que será o melhor padrão digital adotado pelo Brasil.
Um detalhe importante chama a atenção dos técnicos do setor: enquanto as discussões continuam a tecnologia muda suas características o que é normal, dada a rapidez de transformação decorrente de estudos e pesquisas.
Enquanto a definição não vem, outros temas importantes emergem: informação e conteúdo. O que o som digital transmitirá para os ouvintes e quanto custará o investimento para os radiodifusores?
— Carlos Eduardo Behrensdorf escreve sobre a indústria do rádio de Brasília, Brasil.