BRASÍLIA, Brasil — A Secretaria de Serviços de Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações (MiniCom) deste pais, promoveu um seminário de rádio digital com o objetivo de unir vários segmentos da sociedade para debater sobre a digitalização do rádio no Brasil.
Por Carlos Eduardo Behrensdorf
O evento ocorreu no dia 1º de setembro, no Salão Nobre dos Correios, em Brasília, e teve a duração de um dia.
Participaram do seminário representantes da cadeia produtiva eletrônica, universidades, radiodifusores, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) e representantes das empresas das tecnologias DRM e HD Radio.
Secretário de Serviços de Comunicação Eletrônica do MiniCom, Genildo Lins. Foto de Herivelto Batista
Da mesa de abertura do seminário participaram o secretário de Serviços de Comunicação Eletrônica do MiniCom, Genildo Lins; o assessor especial da Casa Civil da Presidência da República, André Barbosa; e o presidente da Subcomissão Especial de Rádio Digital da Câmara dos Deputados, deputado Sandro Alex.
Diretor de Tecnologia da ABERT, Ronald Barbosa. Foto de Herivelto Batista
Os debates focaram os padrões existentes de rádio digital, os modelos de negócio que surgem com a nova tecnologia e o impacto na gestão das faixas de radiofreqüência.
O MiniCom pretende realizar testes com dois sistemas de rádio digital, o DRM e o HD Radio, juntamente com parceiros. Serão avaliados critérios relacionados à área de cobertura, condições de propagação específica das regiões brasileiras, robustez do sinal, qualidade do áudio e adequação do sistema à portaria que criou o sistema brasileiro de rádio digital.
Os testes da tecnologia DRM devem terminar até março do próximo ano. Os testes com a tecnologia do HD Radio ainda não foram iniciados.
Secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Cezar Alvarez. Foto de Herivelto Batista
Na abertura do seminário, o secretário executivo do Ministério das Comunicações, Cezar Alvarez, afirmou que a escolha do sistema levará em consideração aspectos geográficos e também socioeconômicos. “Quando avaliarmos as opções, teremos também de levar em consideração os aspectos econômicos do padrão, porque não podemos ter um equipamento que seja muito caro e se torne inacessível para a população”. Ele citou como exemplo os Estados Unidos, onde um aparelho receptor de rádio digital custa pelo menos US$49.
Os equipamentos passarão por avaliações em cidades com diferentes características de relevo, como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. Todas as avaliações somente serão divulgadas depois de concluídos os testes com as variadas tecnologias. Alvarez destacou a importância do rádio para pequenas cidades e também para regiões mais afastadas. Ele citou o exemplo da Amazônia, onde grande parte da população obtém informações sobre o que está ocorrendo no país e no mundo por meio das emissoras de rádio.
“O rádio é o meio de comunicação por excelência, porque supera as fronteiras geográficas e sociais”, disse Alvarez.
O diretor de Tecnologia da ABERT, Ronald Siqueira Barbosa, reconheceu a importância do Ministério das Comunicações “recolocar” na sua pauta de prioridades o debate sobre a digitalização do rádio no Brasil.
Um dos mais respeitados técnicos da área, Barbosa disse que o debate iniciou na década de 90. Foram estabelecidos alguns critérios para a escolha de um sistema em 1996.
“A ABERT acompanhou todas as discussões sobre o rádio digital desde que elas surgiram e continua disposta a debater o tema”, disse o diretor da ABERT.
O uso da mesma faixa e do mesmo canal, além da transmissão em modo analógico e digital, está entre as principais premissas citadas por Barbosa. Em 2006, o MiniCom convidou a entidade a realizar testes com o padrão HD Radio, à época, o único a apresentar características técnicas e operacionais indispensáveis ao mercado brasileiro.
Especialistas da Universidade Presbiteriana Mackenzie avaliaram o sistema em 2008 com o acompanhamento de integrantes do Minicom e Anatel. Os testes levaram em conta a robustez do sinal, a área de cobertura e a qualidade do áudio.
Alexander Zink, da DRM, destacou a compatibilidade do modelo com o sistema brasileiro e reforçou a flexibilidade do produto, que é capaz de transmitir o sinal analógico e o digital de maneira simultânea, nas faixas AM e FM.
Brasil poderá desenvolver sistema de rádio digital O Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Foto de Herivelto Batista
“Há ainda a possibilidade do Brasil desenvolver um sistema próprio e difundi-lo nos países vizinhos”. A afirmação é do ministro das comunicações, Paulo Bernardo, ao participar de audiência pública sobre rádio digital na câmara dos deputados em Brasília, no último dia 23 de agosto.
O debate, promovido pela Subcomissão Especial de Rádio Digital, da Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informação, teve o objetivo de informar aos parlamentares o andamento das discussões sobre o tema. Paulo Bernardo também afirmou que o baixo custo é um ponto crucial para a adoção de qualquer tecnologia.
Outra afirmação importante é que independente do modelo escolhido, os transmissores e receptores deverão ser produzidos no país, como forma de incentivar a indústria nacional e baratear o custo para o consumidor. O governo brasileiro ainda não tem nenhuma decisão tomada.
Paulo Bernardo declarou que discutirá “amplamente” o tema com o congresso nacional, o setor de radiodifusão, a indústria e todos os segmentos envolvidos. O ministro fez referência ao que chamou de “um processo de transição rápido, que garanta a inclusão das rádios comunitárias e educativas”.
De acordo com o ministro, o objetivo dos testes que estão em andamento é encontrar a tecnologia mais apropriada à realidade do Brasil. “Precisamos de um modelo que permita a utilização eficiente do espectro de radiofreqüências, com uma transmissão de boa qualidade e interferências mínimas”, disse.
— Carlos Eduardo Behrensdorf
De acordo com Zink, o modelo europeu tem melhor utilização das freqüências disponíveis, já que “em um mesmo canal é possível transmitir até quatro canais de áudio simultaneamente”.
O representante da iBiquity, John Schneider, fez um retrospecto do desenvolvimento do produto. Entre os principais pontos, ele destacou a vantagem do modelo estadounidense de transmitir sinais híbridos, que transportam as informações tanto de maneira digital quanto analógica, utilizando a mesma freqüência.
Schneider revelou que mais de 80 por cento do território dos Estados Unidos já está coberto com o sinal de rádio digital e que o México decidiu pela adoção do sistema em junho.
O professor Gunnar Bedicks, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, defendeu a possibilidade do Brasil desenvolver um sistema próprio de rádio digital, com adaptações. Gunnar lembrou que o mesmo ocorreu no processo de adoção do modelo nipo-brasileiro de TV digital, o ISDB-T, que hoje ganha adesão de vários países.
O professor disse que a adoção do padrão de rádio digital deve levar em consideração as particularidades da radiodifusão brasileira, com destaque para as rádios AM, as de Ondas Tropicais e de Ondas Curtas. “Não é a adoção de uma tecnologia que vai transformar uma AM. São necessários outros investimentos, como equipamentos”.
Já o representante da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (ABRACO), José Soter, demonstrou preocupação com as interferências nas transmissões com dois padrões de rádio digital. Ele disse estar preocupado com a adoção de um dos dois sistemas, pois “isso inviabilizaria o funcionamento das rádios comunitárias”. Soter defendeu a adoção de um sistema brasileiro de rádio digital.
— Carlos Eduardo Behrensdorf escreve sobre a indústria do rádio de Brasília, Brasil.